No post Pra Quem é Addams, citei o nome de uma peça que assisti algumas vezes (creio que 4) e senti a necessidade de resenhá-la aqui.
A peça a que me refiro é o musical O Despertar da Primavera. Assim como Familia Addams, é um musical da Broadway que foi trazido ao Brasil. No entanto, os diretores Charles Möeller e Claudio Botelho tiveram uma maior liberdade em criar algumas alterações no espetáculo, o que não ocorreu com a outra. Vale contar também que o musical da Broadway é uma adaptação da peça de Frank Wedeking, de 1891, que na época foi inclusive censurada devido ao seu delicado conteúdo.
Primeiramente, vamos ao enredo: a história se passa na Alemanha, em 1891, época na qual pairava sobre os jovens diversas dúvidas, incertezas e inseguranças, algo não muito diferente dos dias atuais. No entanto, havia uma grande rigidez na criação desses meninos, que não tinham acesso a informações e não podiam contar com seus pais e professores para ensinar-lhes, por exemplo, sobre sexo. A rigidez também trazia grande insegurança para os jovens, que eram duramente repreendidos quando tiravam notas baixas ou faziam perguntas "indevidas".
A trama concentra-se na história de dois adolescentes, Wendla (Mallu Rodrigues) e Melchior (Pierre Baitelli), que há tempos mostravam interesse um pelo outro, mas a impossibilidade de um relacionamento os afastara até então. No entanto, levados pelo impulso e pela ingenuidade, passam a se relacionar e descobrem, tomados por um paradoxo de culpa e desejo, o sexo.
Paralelamente a isso, existem pequenas histórias de amigos do casal que abordam temas que até os dias de hoje se mostram delicados dentro das famílias (imagine então em 1891!). Homossexualidade, depressão, incesto e até mesmo abusos dentro de casa são mostrados em toda a peça, exaltando a dificuldade desses meninos em lidar com um mundo rígido e de censuras. Através disso a trama se desenrola e não poupa mortes, suicídios, prostituição (e palavrões).
Observando esse enredo, pesado até mesmo no contexto atual do século XXI, compreende-se porque a peça foi censurada em 1891. E permite afirmar quão vanguardista foi Wedeking a tratar de temas tão delicados em uma peça teatral. Tive a oportunidade de conversar com os atores e eles me contaram as reações diversas do público. Espanto das velhinhas da primeira fileira, risadas constrangidas de adolescentes com as cenas de sexo e homossexualidade e choros de pessoas que se emocionaram. Uma das atrizes, a que é abusada por seu pai na história, contou que, após o final do espetáculo, determinado dia, uma senhora veio até ela, ainda emocionada e confessou-lhe que o mesmo havia ocorrido com ela, mas que sua época não permitiu-lhe se manifestar contra o que ocorrera.
Apesar da tristeza que este fato retrata, é muito interessante que histórias como essas sejam trazidas para o palco, para que esses assuntos tomem voz perante a sociedade e que crimes desse tipo sejam denunciados.
Infelizmente, o espetáculo não está em cartaz, mas tive informações de que haveria o projeto de remontá-lo e que, inclusive, testes já estavam sendo feitos, porém não pude confirmar esse fato. Como de costume, encerro este post com um vídeo trailer sobre a peça, espero que gostem!
Parabéns por sua iniciativa, os brasileiros e a internet estão carentes de informações de bom gosto e que contribuam para nossa evolução mental e progresso cultural.
ResponderExcluirEstou seguindo seu blog com muito prazer!
Oi Carina,
ResponderExcluirAdorei seu blog, o fato de ter diversos assuntos o torna ainda mais interessante...já virei seguidora!
Gostaria muito que vc tb seguisse o meu para podermos trocar conhecimento...
http://astrosefilmes.blogspot.com.br/
P.S. estive em São Paulo essa semana a trabalho (voltei ontem para casa)e adoraria que vc postasse sobre as peças em cartaz (que vc recomenda), para uma próxima vez eu tentar assistir, pois adoro cinema e teatro!
Abs,