domingo, 3 de junho de 2012

A Intérprete (The Interpreter)

Ontem a noite tive a oportunidade de assistir ao filme A Intérprete. O que me levou a ele é um trabalho que estou realizando na faculdade sobre a Organização das Nações Unidas, que me fez procurar toda e qualquer referência sobre o tema. Para ser sincera, acredito que o filme pouco me será útil no trabalho, pois o que falam da ONU é o clichê que todos já conhecemos. No entanto, assistir a esse filme, definitivamente, não foi tempo perdido.

Antes de mais nada, como sempre, vamos à sinopse: Silvia Broome (a linda Nicole Kidman, atriz pela qual, confesso, sou apaixonada) é uma intérprete das Nações Unidas, fluente em 8 línguas, inclusive alguns dialetos africanos, já que nascera na África. Certa noite, por acaso, ela ouve uma ameaça de morte a um chefe de Estado africano, que viria discursar em poucos dias na Assembleia Geral.

Ao relatar o que ouviu, agentes federais passam a protegê-la e, ao mesmo tempo, investigar seu passado. O agente Tobin Keller (Sean Penn) descobre uma relação entre a história de Silvia na África e o chefe de Estado que está para chegar nos EUA, fazendo com que ele passe a desconfiar, inclusive, do envolvimento dela com o possível crime. Quanto mais os dois personagens adentram nessa história, crimes e assassinatos são revelados e a dúvida que demora a ser solucionada: estaria Silvia envolvida, de fato, nessa trama?


Vamos agora às críticas: ao pesquisar um pouco as opiniões a respeito do filme, encontrei algumas críticas negativas: "Um suspense político que está mais para drama, mas que ainda assim reserva suas poucas qualidades", "Um filme com cara de Sidney Pollack, mas ainda mais chato que de costume". Particularmente, não concordo com elas. O filme não possui uma carga demasiadamente dramática, apenas o necessário para envolver o público na trama. E o suspense possibilitou um envolvimento até o fim, uma vez que muitas perguntas pairam e só se solucionam no final. Apesar de ter um tema político, o entendimento de sua história é simples e, mesmo aqueles que não se interessam por assuntos diplomáticos e de relações internacionais, é um filme que retém a atenção desde o início.


Além disso, preciso destacar a atuação dos protagonistas. Posso ser suspeita ao falar de Nicole Kidman, mas nesse filme, ela se superou. Ela proporciona um caráter misterioso à personagem, fazendo com que o público demore a entender exatamente quais são suas reais intenções. Mesmo sob o desafio de falar várias línguas, sua interpretação se mostrou natural e extremamente convincente.
Sean Penn também mostra grande talento com sua atuação. Seu personagem havia perdido a esposa há poucos dias, mas ao mesmo tempo tinha de lidar com toda a pressão e responsabilidade desse possível crime. Penn consegue interpretar Tobin Keller de forma bem humana, o que eu acho bastante interessante. Ele não é extremamente frio e profissional, mas ao mesmo tempo não se mostra fraco, mesmo ao contar para Silvia sobre a morte de sua esposa. Os atores mostraram também uma sintonia muito interessante entre si, tornando A Intérprete um excelente filme.
A seguir o trailer do filme, para quem se interessou:


sábado, 2 de junho de 2012

O Despertar da Primavera

O blog passou pelo seu primeiro fim de semana e, por esse motivo, o número de posts caiu entre ontem e hoje. Mas comprometo-me a escrever sempre que houver tempo.
No post Pra Quem é Addams, citei o nome de uma peça que assisti algumas vezes (creio que 4) e senti a necessidade de resenhá-la aqui.


A peça a que me refiro é o musical O Despertar da Primavera. Assim como Familia Addams, é um musical da Broadway que foi trazido ao Brasil. No entanto, os diretores Charles Möeller e Claudio Botelho tiveram uma maior liberdade em criar algumas alterações no espetáculo, o que não ocorreu com a outra. Vale contar também que o musical da Broadway é uma adaptação da peça de Frank Wedeking, de 1891, que na época foi inclusive censurada devido ao seu delicado conteúdo.


Primeiramente, vamos ao enredo: a história se passa na Alemanha, em 1891, época na qual pairava sobre os jovens diversas dúvidas, incertezas e inseguranças, algo não muito diferente dos dias atuais. No entanto, havia uma grande rigidez na criação desses meninos, que não tinham acesso a informações e não podiam contar com seus pais e professores para ensinar-lhes, por exemplo, sobre sexo. A rigidez também trazia grande insegurança para os jovens, que eram duramente repreendidos quando tiravam notas baixas ou faziam perguntas "indevidas".


A trama concentra-se na história de dois adolescentes, Wendla (Mallu Rodrigues) e Melchior (Pierre Baitelli), que há tempos mostravam interesse um pelo outro, mas a impossibilidade de um relacionamento os afastara até então. No entanto, levados pelo impulso e pela ingenuidade, passam a se relacionar e descobrem, tomados por um paradoxo de culpa e desejo, o sexo.


Paralelamente a isso, existem pequenas histórias de amigos do casal que abordam temas que até os dias de hoje se mostram delicados dentro das famílias (imagine então em 1891!). Homossexualidade, depressão, incesto e até mesmo abusos dentro de casa são mostrados em toda a peça, exaltando a dificuldade desses meninos em lidar com um mundo rígido e de censuras. Através disso a trama se desenrola e não poupa mortes, suicídios, prostituição (e palavrões).


Observando esse enredo, pesado até mesmo no contexto atual do século XXI, compreende-se porque a peça foi censurada em 1891. E permite afirmar quão vanguardista foi Wedeking a tratar de temas tão delicados em uma peça teatral. Tive a oportunidade de conversar com os atores e eles me contaram as reações diversas do público. Espanto das velhinhas da primeira fileira, risadas constrangidas de adolescentes com as cenas de sexo e homossexualidade e choros de pessoas que se emocionaram. Uma das atrizes, a que é abusada por seu pai na história, contou que, após o final do espetáculo, determinado dia, uma senhora veio até ela, ainda emocionada e confessou-lhe que o mesmo havia ocorrido com ela, mas que sua época não permitiu-lhe se manifestar contra o que ocorrera.
Apesar da tristeza que este fato retrata, é muito interessante que histórias como essas sejam trazidas para o palco, para que esses assuntos tomem voz perante a sociedade e que crimes desse tipo sejam denunciados.



O elenco brasileiro contou com atores jovens, porém demasiadamente talentosos, não apenas ao que se refere à interpretação, como também à dança e ao canto. Eles trouxeram emoção à história e foram responsáveis pelo grande sucesso do espetáculo (sucesso tal que o contrato teve de ser postergado em São Paulo, devido a pedidos dos fãs). Vale salientar que (só me lembrei de dizer isso agora), apesar da alta carga dramática da peça, há cenas cômicas, sempre com um alto teor crítico, obviamente, mas que tornam a peça ainda mais completa. Destaque para Rodrigo Pandolfo como Morritz, atuação que lhe rendeu o prêmio de melhor ator coadjuvante da APTR (Associação de Produtores de Teatro do Rio de Janeiro)


Infelizmente, o espetáculo não está em cartaz, mas tive informações de que haveria o projeto de remontá-lo e que, inclusive, testes já estavam sendo feitos, porém não pude confirmar esse fato. Como de costume, encerro este post com um vídeo trailer sobre a peça, espero que gostem!

(obs.: alguns atores, como o homem adulto que aparece na gravação, não estava no elenco da peça em São Paulo)